“NÃO ORDENEI A REPRESSÃO EM OURO PRETO”, DIZ CHEFE DO GABINETE MILITAR
O presidente da Aspra/PMBM, Sargento Bahia, participou na manhã desta terça-feira, 31, de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a convite do presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado estadual Sargento Rodrigues. A sessão teve a finalidade de discutir a repressão por parte da PM durante as manifestações do dia 21 de abril, em Ouro Preto, ocasião em que representantes da classe foram impedidos de entrar na Praça Tiradentes com uso de força e gás lacrimogênio.
Ao contrário do que foi dito na época, o chefe do Gabinete Militar, Cel Helbert Figueiró, que também participou da audiência, afirmou que a ordem para a ação não partiu dele. “Recebi a notícia no palanque e também fiquei surpreso”, disse.
Apresentou, ainda, números sobre o efetivo deslocado para o evento em relação a anos anteriores e alegou que o credenciamento fora organizado por empresa terceirizada. Questionado pela mesa, respondeu que somente neste ano foi necessária a credencial para não agraciados com a medalha.
“Deste fato, tiramos uma lição: poderíamos ter evitado o episódio se tivéssemos construído agenda mais próxima. Daqui para frente vamos conversar mais com as associações”, concluiu.
Entenda
Naquela ocasião, dirigentes de entidades da classe militar e o deputado Sargento Rodrigues foram impedidos de entrar na Praça Tiradentes, onde acontecia a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência e da qual participava o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel.
Policiais do Batalhão de Choque montaram uma barreira e fizeram uso de gás lacrimogênio para dispersar os militares que protestavam ordeiramente pelo fim do parcelamento dos salários, sob justificativa de que era necessário fazer credenciamento prévio. Manifestantes do Movimento dos Sem Terra (MST), no entanto, tinham acesso livre ao local do evento.
“Não temos qualquer tipo de problema com movimentos de esquerda, como o MST e CUT, queremos apenas o mesmo direito de manifestação. Não precisamos criar fatos; estávamos apenas prosseguindo com a nossa mobilização”, observou sargento Rodrigues.
Sargento Bahia se posiciona
Em sua fala, o presidente da Aspra observou que, naquele dia, comemorava-se o dia de Tiradentes, patrono da Polícia Militar e grande exemplo para os policiais mineiros. “O governo deixa de nos pagar no quinto dia útil e por este motivo estávamos lá, para pleitear pelo pagamento em dia. Em todas as nossas manifestações, fomos prudentes. Conversamos com o Comando dias antes e não nos foi informada a necessidade de credenciamento. Sabemos do nosso espaço e certamente não atrapalharíamos a solenidade”, argumentou sargento Bahia.
Parlamentares criticam ação do Comando da PM
O presidente da Comissão de Segurança Pública e autor do requerimento, deputado estadual sargento Rodrigues, argumentou que o episódio demonstra claramente o desrespeito à claúsulas pétreas. “Direitos e garantias fundamentais – com o de ir e vir e o de expressão – não são negociáveis”, enfatizou. O deputado estadual João Leite, por sua vez, se disse triste em ver que a autoridade de um deputado, legítimo representante do povo, tenha sido diminuída.
Já o também deputado estadual Cabo Júlio demonstrou solidariedade aos representantes e argumentou que o parlamentar, pelo cargo que ocupa, tem prerrogativa para entrar em qualquer evento do Poder Executivo. “As entidades de classe avisaram ao Comando da Polícia Militar, com antecedência, de que iriam a Ouro Preto, e este deveria, ao menos, ter reservado um espaço para as manifestações”, defendeu.
Nova audiência será realizada no próximo mês para apurar responsabilidades.
Presenças
Também participaram da audiência pública os presidentes do CSCS, Cabo Coelho; da AOPMBM, Ten Cel Cirilo; da ASCOBOM, sargento Alexandre; os deputados Durval Ângelo e Gustavo Corrêa; e o diretor da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, Wagner Dias.